quarta-feira, 7 de julho de 2010

Em Brasília, dezenove horas. Ou vinte. Ou vinte e uma. Ou vinte e duas. Ou vinte e três.

  
Enfim, nem tudo está perdido. A Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado aprovou o projeto de lei que permite às emissoras de rádio veicular a Voz do Brasil em horário que não a faixa hoje obrigatória, das 19 às 20 horas. A retransmissão do programa poderá ser feita até as 23 horas do mesmo dia.

O fato em si poderia tornar-se ainda mais comemorável, se um maestro decente reorquestrasse O Guarani para introdução do noticiário, hoje um arremedo mais parecido com ponto de macumba de terreiro pobre. Fico pensando se algum dos membros do coro se achava incorporado do espírito de Carlos Gomes, quando gravaram o prefixo que está no ar. Já ele, coitado, é que deve revolver-se no caixão, cada vez que soam as sete badaladas noturnas dos dias úteis...

Sempre fui a favor, mais do que da flexibilização do horário de veiculação, da extinção da VdoB. As circunstâncias da criação do programa – no espírito de um regime ditatorial, visando a promover a imagem do chefe do poder usando o pretexto de informar a todo um país de dimensões continentais e ainda sem infraestrutura de comunicação – e da realidade atual do Brasil – repleto de emissoras de rádio e tevê, inclusive do Poder Público, cobrindo 100% do território nacional e internet razoavelmente disseminada país afora – suplicam por calar-se, de vez, essa Voz. Ou que se a confine às emissoras oficiais, que poderiam produzir conteúdo que preencha todo tempo que quiserem, sem aporrinhar o dileto ouvinte. Os tempos mudaram e o século 21 chegou!

Há quem proponha a manutenção do informativo no ar. A deputada da dancinha (nem me lembro nome da rampeira) defende a existência da VdoB por ser o único noticiário que seria fiel ao seu conteúdo noticioso, divulgando os feitos dos parlamentares e do governo sem a natural tendenciosidade do noticiário comum, além de ser o único espaço que apresenta outros assuntos desinteressantes para os veículos comerciais. Como as preciosidades inventadas por nossas excelências, das moções de deputados e senadores, felicitando clubes de futebol da série Y pela conquista de campeonatos regionais, às propostas de propostas de lei que, de tão absurdas e prosaicas que são, acabam restritas à mera citação pelos locutores do horário.

É direito – talvez, também, dever – do cidadão buscar nas várias fontes a que se pode ter acesso hoje em dia, informação sobre o governo, os homens públicos e seus feitos. Usar, por exemplo, para explicar a obrigatoriedade de um programa desses, a desculpa de que nem todos têm acesso a computadores, é ignorar a profusão de lan houses em favelas e seu típico público usuário, pobre. Contudo, se o perfil desse internauta é somente o de jogar e flertar em páginas de relacionamentos, isso é problema dele – mesmo sendo sua consequência extensiva a todos nós. Sua desinformação retroalimenta o voto em candidatos ruins que, ao chegarem ao poder, perpetuam o ciclo vicioso de não investimento em educação e cultura, com a manutenção de currais eleitorais alienados, dos quais ele, é claro, faz parte.

Enfim, tudo o que se quer é ouvir boa música, ou aquela dica preciosa de trânsito, ao cair da tarde, no caminho de volta ao lar. Sem a inconveniência da intrusão de um noticioso chinfrim que, além de não contribuir para a minha informação, nem para o meu prazer, tolhe a minha liberdade de escolha.


Boas Tardes!

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